segunda-feira, 16 de maio de 2011

Como se constrói uma "polêmica" apurando mal ou escondendo fatos, forçando a mão

Estava mesmo malcontada esta história de livro que "ensina" concordância errada. Quando se vai ver direito,  logo cai por terra o argumento da polêmica. Explicar não é "ensinar". E o livro não ensina, mas explica - coisa que a imprensa andou deixando de fazer. E levou um monte de "ólogos" a criticar sem saber direito do que se tratava. E fez títulos "vendedores" de um peixe que era,  na verdade, um bagrinho. Não merecia pé de página, até porque não é novidade, nem é o primeiro livro que explica o fenômeno da concordância de sentido e do seu uso em determinados grupos e situações.
O Último Segundo, além de ouvir uma das autoras, mostra o trecho do livro em que supostamente se ensina o aluno que "nós vai" é certo. Será? Leia e tire suas conclusões:
"Não somos irresponsáveis", diz autora de livro

Nota da Editora: Depois de acalorada discussão com pessoas que admiro e respeito - alunos, amigos jornalistas ou não -, admito que o livro extrapola os limites da língua e do bom senso, e não deveria ter sido distribuído pelo governo. Mas mantenho minhas críticas à ferocidade e descontex...tualização com que a notícia é conduzida na mídia. O Globo hoje diz que, por causa do livro, as regras do Enem terão que mudar para que respostas erradas sejam aceitas (http://oglobo.globo.com/educacao/mat/2011/05/17/haddad-defende-livro-mas-enem-exige-norma-culta-924488204.asp). Parem as máquinas! Me senti menos maluca ao ler o que disse o linguista Marcos Bagno, professor da Universidade de Brasília (UnB), ao próprio Globo: "O linguista contestou a opinião da procuradora Janice Ascari, do Ministério Público Federal em São Paulo, que acusou os responsáveis pela edição do livro de estarem cometendo um crime contra a educação.
- A procuradora falou de modo leviano, sem conhecimento de causa, inspirada somente no que ouviu dizer. Fez um escândalo sobre o que não existe. Ninguém está propondo 'ensinar a falar errado', mas simplesmente a reconhecer a realidade linguística multifacetada, heterogênea - criticou Bagno, autor de vários livros sobre o tema.
Segundo o professor da UnB, a procuradora não sabe que há mais de 15 anos o ensino do português no Brasil diferencia a língua falada da escrita para que o aluno passe a perceber e a apreender a linguagem culta."