Jornalismo sem jornalistas
post de Paulo Makita no FB
"Alberto Dines suscitou o debate "Jornalismo sem jornalistas". Esse ícone da imprensa brasileira fareja temas de repercussão. Tudo iniciou em seu Observatório da Imprensa, exibido pela TV Brasil.
O pivô da discussão é a propagação das mídias sociais (redes de blogs e microblogs). De lá para cá, as ferramentas informais só aumentam e difundem informações em ritmo acelerado, sem controle. Longe de prejudicar os meios de comunicação, as redes dão impulso e agilidade a fatos ocorridos; conteúdos quentinhos.
Os blogs são a apoteose da liberdade no terreno dos furos jornalísticos. Vale alertar: informação não é necessariamente notícia. Surge, portanto, a “discussão sobre o papel do jornalista na sociedade contemporânea”. É onde brotam várias implicações a serem desvendadas: o jornalismo pode ou não ser feito por pseudo-profissionais?
A prática jornalística em sua essência, não. A função exige embasamento teórico, faro, muita habilidade, bagagem intelectual e esforço na luta com as palavras. Essas últimas precisam ser bem colocadas. É o calo da questão.
O jornalismo está sem, ou com poucos jornalistas. Nem por isso a sociedade precisa abrir mão da contextualização dos dados, exercida pelos profissionais de imprensa. O outro lado é a proliferação de veículos de imprensa de procedência duvidosa, a exibir textos com erros, veneno na sociedade, por expor o lado mortífero da língua.
Sem serem qualificados, os “profissionais” de alguns veículos agem por intuição, e o bom manejo com as palavras passa longe. A qualidade da notícia tem aleijões (...) e erros primários são veiculados aos montões em blogs, microblogs, sites, “revistas” e “jornais”.
Afinal, é ou não imprescindível passar pela faculdade de jornalismo? Não é demais recordar grandes nomes da imprensa que não passaram pelos bancos acadêmicos da profissão em questão: Carlos Castello Branco, Rubem Braga, Paulo Francis e outros. Até porque não havia faculdades de jornalismo. Mas todos tinham excelente bagagem intelectual.
No debate sobre a exigência do diploma para exercer a função de jornalista, dois fatos parecem pertinentes: cursar a faculdade para ter esse direito (é óbvio) ou, como em muitos países, ter um outro curso superior, experiência nas redações e fazer uma especialização na área.
Hoje qualquer cidadão se comunica por meio de redes como twitter, quepasa, facebook. Nada há de condenável. Serve para aproximar personalidades públicas, como políticos e escritores, de pessoas comuns. Na mesma linha, os professores sabem a importância desses recursos para interagir com alunos.
A prática é admissível, desde que sejam repassadas informações com coerência e ética. É preciso veicular fatos bem apurados, para não desencadear uma rede de fuxico on line, ao invés de jornalismo salutar. Isso seria o auge dos trotes coletivos de “notícias”.
O caminho mais acertado é a filtragem das informações. O conteúdo enviado por cidadãos passa a ser matéria-prima, se transformada em ingrediente essencial da imprensa por profissionais do ramo, numa espécie de parceria.
A atividade jornalística pode e deve abraçar as ferramentas virtuais. São benéficas. Assim fica democratizada a informação. Já o bom conteúdo e exercício, depende do esforço pessoal. A quem zela pela profissão, cabe ser guardião da qualidade. Inovar só é bom quando a tendência é acompanhada por grandes ideias."
publicado originalmente em 2011.