Instituto Vladimir Herzog apresenta a história da imprensa que contestou a Ditadura
André Bürger
Com a proposta de resgatar a memória da imprensa alternativa e clandestina que circulou no Brasil entre 1964 e 1979, período entre o golpe militar e a anistia, o Instituto Vladimir Herzog promove o projeto ‘Resistir é Preciso’. Ao longo do ano, serão lançados dois livros, documentários, uma exposição sobre o tema e a coleção de DVDs ‘Os protagonistas dessa história’ com depoimentos de 60 jornalistas que combateram a ditadura no Brasil, produzindo jornais de contestação do regime.A data de lançamento do projeto, dia 27 de junho, marca os dois anos de criação do instituto, uma organização sem fins lucrativos fundada em 25 de junho de 2009, que se posiciona com neutralidade
político-partidária, e o 74º aniversário de Vladimir Herzog. O jornalista foi encontrado morto, em outubro de 1975, nas dependências do 2º Exército, em São Paulo. Três anos depois, em processo movido por
sua família, a União foi responsabilizada pelas torturas e morte do então diretor de jornalismo da TV Cultura.
O projeto ‘Resistir é preciso’ revela a importância de 110 jornais clandestinos, 115 periódicos editados no exterior por jornalistas exilados e distribuídos no Brasil e em países de língua portuguesa.
Além disso, traz também a história de mais de 400 diários alternativos, todos de grande importância, como explicou o jornalista Ricardo Carvalho, um dos coordenadores de conteúdo e de pesquisa do projeto. “Os profissionais à frente dessas publicações foram fundamentais para o processo de redemocratização do país na luta contra a ditadura militar”, comentou.
Entre os veículos estão os jornais ‘Opinião’, ‘Movimento’, ‘Brasil Socialista’, que era editado na Bélgica, ‘Cartas Chilenas’ e o ‘Voz Operária’. Este último produzido na Itália e na União Soviética pelo
Partido Comunista Brasileiro. A maioria das publicações alternativas era de esquerda, normalmente com uma linha editorial mais opinativa. “Esses jornais faziam uma leitura dos grandes veículos brasileiros e
das principais revistas que circulavam pelo país”, esclareceu Carvalho.
A coleção de DVDs reúne depoimentos de jornalistas de destaque como Juca Kfouri, preso em 1971 quando era chefe de reportagem da Placar; o dramaturgo e roteirista Aguinaldo Silva; o escritor Fernando Moraes que trabalhou nas redações de Veja e Folha de S. Paulo; Ziraldo Pinto, um dos fundadores do Pasquim; Reynaldo Jardim, que faleceu logo após gravar seu depoimento e Raimundo Pereira, um dos fundadores do ‘Opinião’. Posteriormente, Pereira trabalhou no jornal ‘Movimento’ e hoje edita a revista mensal ‘Retrato do Brasil’.
Para Carvalho, o projeto é uma oportunidade para estudantes de jornalismo aprenderem sobre esse período da história da imprensa no país. “Quando conhecemos a trajetória desses homens e mulheres que lutaram pela liberdade do Brasil, ficamos blindados contra qualquer ameaça futura a essa liberdade. Por isso, é fundamental que as novas gerações conheçam esse tipo de trabalho”, acredita. Na entrevista ao Nós da Comunicação, Carvalho comentou a Lei de Acesso à Informação, que obriga órgãos públicos a prestarem informações à sociedade. “As pessoas precisam ter acesso às informações. Porque no momento que vira secreto, vira também suspeito. Se tem alguma coisa errada é preciso falar para a sociedade. Concordo que não precisa ser no ano seguinte, porque algumas questões são de segurança nacional, mas é preciso divulgar algum dia. Não existe meia democracia: ou existe ou não existe. Qualquer meio-termo é palhaçada”, criticou o jornalista.