domingo, 19 de junho de 2011

Histórias de uma jornalista

A querida amiga jornalista Luciana Medeiros contou à turma das 13h esta história protagonizada por sua mãe, Maria d'Ajuda, uma das primeiras repórteres do telejornalismo brasileiro. Pedi a ela que registrasse pro blog. Aí está o emocionante relato:

"Eram os anos 70 – início, talvez 74, ou já para 75/76, quem saberá dizer?... Minha mãe, Maria d’Ajuda, integrou a primeira geração de repórteres femininas da TV Globo, junto com Glória Maria, Leda Nagle e Scarlett Moon, entre outras, e ainda iria ser uma das editoras do Jornal Hoje em seus primórdios. Na época dessa foto, ela era repórter de rua. O cinegrafista que está com ela se chamava Flavinho. Em tempo: minha mãe é filha da PUC, e formou-se na última turma de Jornalismo, antes do curso se transformar em Comunicação Social. Ela cursou a faculdade depois de casada, eu tinha 6-7 anos quando ela começou – deve ter sido de 68 a 72 ou coisa assim. Logo depois ela foi para O Globo e a TV Globo, depois TV Bandeirantes e TVE.
Bom, a história: estava ela, junto com uma turma grande, fazendo plantão num prédio da Av. Atlântica, à espera de um (a memória que não me traia demais) comandante de voo comercial acusado de contrabando. Tocaia mesmo, junto com outras equipes. Esse cidadão careca aí da foto sai do prédio e todos se precipitam para entrevistá-lo (gente, e cadê a polícia? Eu, hein). Apesar dos sapatos plataforma, lá foi Maria d’Ajuda correndo na frente do bando de coleguinhas... e o camarada, que não era comandante nem acusado de nada, meteu-lhe um empurrão daqueles. Evandro clicou a cena, a foto saiu no JB no dia seguinte e ele – que tinha sido professor dela na PUC – mandou fazer esse megapôster, que ela doou para a redação da faculdade.
Minha mãe morreu em 1984, no cumprimento do dever: estava no voo fretado que caiu em Macaé, junto com 14 outros jornalistas de TV. Eles iam cobrir o marco da extração de 500 mil barris da Petrobras em Campos. Havia gente das TVs Globo, Bandeirantes, Manchete e ela era da TV Educativa (hoje TV Brasil). No dia seguinte, Samuca (Samuel Weiner, filho de Danuza Leão), também repórter da TV Globo,  morreu num acidente de carro, voltando de Macaé para o Rio, depois de cobrir as primeiras buscas do acidente. Foi traumatizante para todos. Eu era aluna da PUC nessa época, e tinha justamente acabado de sair de uma aula na redação, com Fernando Ferreira, quando cheguei em casa e soube do acidente.
Curiosamente, quase todos os repórteres que estavam naquele avião tinham sido convocados às pressas para substituir um colega que não poderia ir. No caso da minha mãe, ela – que tinha pavor de avião – entrou no lugar de Munir Safatli.
Ela era uma mulher avant la lettre, muito à frente do seu tempo. Tinha a ânsia de viver tudo, uma gula, uma paixão que faziam dela uma pessoa inesquecível. Eu me lembro de numerosas ocasiões em que ela ficava felicíssima com as missões mais espinhosas – plantão que virava noite na rua, como no sequestro do Carlinhos, caso que parou o Brasil (e aliás nunca foi resolvido). Quando morreu, tinha 46 anos. Morreu trabalhando, que era o que ela mais gostava de fazer."
Abaixo, o pôster de Evandro Teixeira ainda ao fundo da sala da redação do Projeto Comunicar, em foto do acervo de Paula Autran. Aparecem os então estagiários Patricia Albuquerque; Fernando Lafayette e Luiz Antonio Ryff; Fernando Luna e Angelica Lopes; Paula Autran, Luciana, Germana Costa Moura e Monica Weinberg; Felipe Barboza e um amigo dele que não fazia Comunicação na última fileira. A foto é de Julien Maculan, fotógrafo do projeto na época. Auxílio luxuoso de Ryff na identificação. Valeu!