Matheus Souza (omatheussouza@gmail.com)
A Megazine ajudou a formar o meu caráter. Estava aqui pensando no que escrever na coluna desta última edição impressa da revista, me lembrando da época em que eu era "apenas" um leitor, e foi essa a conclusão a que cheguei. Se um dia eu fiz um filme, se um dia eu virei um roteirista, se um dia eu virei colunista do jornal, foi porque eu li muito na fase de crescimento. Afinal, eu precisava fazer outra coisa para me distrair do fato de que eu não estava crescendo muito na fase de crescimento. E sim, sou do time que acha que o hábito da leitura torna as pessoas melhores.
A paixão pela leitura é um processo gradual, uma espécie de cadeia evolutiva. Bom, pelo menos no meu caso foi assim. Um rapaz sem hábito de leitura não vai acordar um dia e pensar "ai que vontade de ler um Dostoiévski". Quando eu era criança, lia os quadrinhos da Turma da Mônica. Um pouco mais velho, parti para o Homem-Aranha, os X-Men e o Lanterna Verde. Na pré-adolescência surgiu um tal de Harry Potter e um suplemento super colorido do jornal que minha mãe assinava, a Megazine. Ela ia jogar fora o jornal de terça quando viu que tinha essa nova área jovem. Resolveu guardar para eu dar uma lida quando voltasse da escola.
Eu voltei, li e virou costume de toda terça. Era um milagre, um veículo destinado aos jovens, que não os tratava como completos idiotas. Por causa da Megazine, passei a fuçar mais o GLOBO e me viciei no Rio Show (Rio Fanzine principalmente) e no Segundo Caderno. Com isso, passei a ir mais ao teatro, a shows, exposições, aos cinemas do grupo Estação, e um mundo novo foi se abrindo pra mim. Esses cadernos me apresentaram ao Woody Allen, ao Radiohead, ao Nick Hornby e ao Domingos Oliveira. E eles me levaram a pesquisar o que veio antes deles. E tudo isso me levou a escrever, a achar o meu caminho, descobrir o que eu queria fazer da vida.
(Ah, só pra constar, não estou aqui defendendo que este é o único ou o melhor caminho a ser tomado. Uma pessoa pode virar presidente sem o hábito da leitura. Mas é, de fato, um caminho. Sólido e proveitoso. E uma das coi$mais difíceis quando se é jovem, é achar um caminho.)
Eu tenho muito carinho por esta revista. Meu longo relacionamento com a Megazine tem tintas de caso amoroso. Lembro do início do nosso namoro, em que no recreio do colégio, eu, excluído do futebol, fugia pra biblioteca pra ler a edição da semana; da fase "Eduardo e Mônica", em que ela me levou para conhecer coisas novas através de colunas como a "Qual é" e me ajudou a estudar para o Enem com suas dicas para o vestibular; de quando ela me incentivou e viu potencial em mim, publicando a primeira matéria sobre meu primeiro filme; e, enfim, do nosso casamento, quando passei a escrever a coluna.
O jornal O GLOBO tem o prêmio Faz Diferença, para pessoas ou instituições que tiveram destaque em seus diferentes cadernos durante o ano. Eu fui indicado em 2008 na categoria "Megazine" e, gostaria de dizer aqui, em retribuição, que a Megazine fez a diferença pra mim. E minha caixa de e-mails, por causa da coluna, está cheia de mensagens de outros jovens com o mesmo sentimento. Então, obrigado, e parabéns por isso.
Ah, e num "momento Xuxa Park", gostaria de agradecer à minha mãe também por ter guardado pra mim centenas de Megazines ao longo dos anos. Você é incrível.
Bom, nos vemos, a partir da semana que vem, toda terça aqui no site. Um abraço!